Blog do Fernando Rodrigues
A notícia boa foi para Dilma. A dúvida é seu teto
A pesquisa Datafolha realizada de 14 a 18 de dezembro trouxe só boas notícias (e nenhuma ruim) apenas para Dilma Rousseff (PT):
a) ela se consolidou isoladamente em segundo lugar, sendo a principal herdeira dos votos de Heloísa Helena (PSOL), que saiu da disputa;
b) reduziu sua distância em um terço em relação a José Serra (PSDB); os dois estavam separados por 21 pontos em agosto e essa distância caiu agora para 14 pontos;
c) a petista lidera em todos os cenários possíveis quando o governador de São Paulo não está no páreo (teria 31% contra apenas 19% de Aécio Neves, se este último fosse o candidato tucano);
d) sua rejeição é igual à obtida pelos seu principais adversários (na casa dos 20%);
e) por fim, Dilma conseguiu tudo isso sem ser candidata. Apenas apareceu ao lado de Lula o tempo todo e estrelou propagandas do PT como a ministra que ajuda a administrar o governo.
Eis um resumo da pesquisa Datafolha (aqui, os levantamentos de todos os outros institutos):
Diante de arrancada tão fulminante, o que mais poderia desejar a pré-candidata a presidente do PT, Dilma Rousseff? Resposta: que seu teto não seja muito baixo, só perto dos 30%.
Hoje é impossível saber qual será esse teto. A eleição está marcada para 3.out.2010. Pergunte a um estrategista do PT e ele dirá que o teto de Dilma é semelhante à popularidade do governo Lula –72% na mesma pesquisa Datafolha. Indague a um tucano e a previsão será diferente –Dilma só vai crescer no limite dos petistas que não têm o mesmo carisma de Lula, ou seja, a pré-candidata do PT a presidente estaria condenada a ficar numa faixa de 30% a 35%.
Tudo especulação.
Um fato porém é inescapável: cumpriu-se a profecia lulista segundo a qual Dilma Rousseff seria uma candidata competitiva em dezembro de 2009 (tese sempre repelida por tucanos). Mas é agora que o jogo começa de fato. Um indício é a pesquisa espontânea do Datafolha, quando os entrevistados apenas são indagados sobre em quem desejam votar, mas sem ver os nomes dos possíveis candidatos. Em agosto, 27% respondiam que votariam em Lula (o presidente não é candidato). Hoje, o percentual de Lula caiu para 20%. Um sinal de que parte do eleitorado lulista está percebendo que a eleição está chegando –até porque o percentual espontâneo de Dilma passou de 3% para 8%, empatando com Serra:
O que dizer dos outros candidatos:
José Serra: a grande notícia para o tucano é que ele parece inamovível. Tem agora o mesmo percentual de agosto, mesmo depois da propaganda maciça do PT a favor de Dilma. Mas essa estancada de Serra é também uma péssima notícia para o tucano: ele parece ter empacado, apesar de sua também alta exposição na mídia, inclusive nos comerciais de TV do PSDB.
A grande pergunta que os tucanos devem se fazer é como ampliar o percentual de Serra na pesquisa. A resposta pode estar em Minas Gerais, onde Aécio Neves ainda é o preferido para ser candidato a presidente por 57% a 58% dos eleitores, conforme o cenário, segundo o Datafolha (Serra não está mal entre os mineiros, mas seus percentuais variam de 39% a 42%). Aqui, os dados estratificados da pesquisa presidencial para Minas Gerais.
Ciro Gomes: o hoje deputado federal pelo PSB do Ceará já foi candidato a presidente duas vezes, em 1998 e em 2002. Na última vez, teve 12% dos votos válidos –o que equivale a cerca de 9% a 10% nas pesquisas. Por enquanto, se a eleição fosse hoje, Ciro está com um desempenho melhor do que em eleições passadas. Sua presença também ainda é vital para Dilma Rousseff e para o PT: sem Ciro, no principal cenário (Serra, Dilma, Ciro e Marina), a eleição seria decidida hoje no primeiro turno a favor do tucano. É que quando ficam só Serra, Dilma e Marina, o candidato do PSDB tem 40% contra 37% somados da petista e da candidata do Partido Verde.
Marina Silva: depois de sair do PT, entrar no PV e ser a sensação da pré-campanha por algumas semanas, a senadora do Acre não aconteceu mais. Seus percentuais variam de 8% a 16%, mas nesse último caso só num improvável cenário no qual Aécio Neves aparece como o candidato a presidente tucano. Marina herdou só 5 pontos dos 12 deixados ao léu por Heloísa Helena (PSOL). Se a candidata do PV não ampliar suas alianças e seu discurso, cumprirá apenas o papel de ser mais uma no segundo pelotão da campanha de 2010.
Nanicos: quem serão eles? Por enquanto, parece haver disposição de José Maria Eymael (PSDC), José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Costa Pimenta (PCO). Outros certamente devem aparecer, pois a verticalização que vigorou em 2002 e 2006 agora não existe mais: esses partidos pequenos podem apoiar quem bem entenderem nos Estados e ainda assim lançar um candidato próprio ao Planalto. Do ponto de vista histórico, os nanicos somados têm de 1,5% a 3% dos votos. Numa eleição apertada, podem ser relevantes para que seja (ou não realizado) um segundo turno. Só será possível saber o impacto desse grupo depois que os institutos passarem a testá-los nas pesquisas.
E não se esqueça: este blog é o único que oferece ao internauta, desde o ano 2000: todas as pesquisas de opinião eleitoral em todos os Estados: aqui. Para ir diretamente aos levantamentos sobre a disputa de 2010 (presidente, senadores e governadores),
clique aqui.http://uolpolitica.blog.uol.com.br/arch2009-12-20_2009-12-26.html#2009_12-20_06_16_33-9961110-0